quarta-feira, 6 de julho de 2011

Recuperação e recaída




     Quando estava na Fazenda da Paz, conheci uma pessoa especial, J. Me recordo bem de quando o vi pela primeira vez, ele vinha em cima de um caminhão que é usado na Fazenda para transportes de objetos. Naquela tarde, ele havia aparecido no Escritório da Fazenda e imediatamente, mesmo sem carro na ocasião para levá-lo, ele foi encaminhado no caminhão.
     Conheci uma pessoa destroçada, conflituosa e com um sentimento de culpa terrível por sua mulher ter perdido seu bebê e que tentava esconder todas estas mágoas atrás de uma pessoa prestativa e aconselhadora.
     Foram muitos momentos em que não só compartilhava minhas angústias e expectativas como também ele compartilhava um pouco de sua estória. Aos poucos, vi alguém que chegou destruido e começava a ser restaurado na sua fé e no seu amor próprio.
     Mal ele terminou seu tratamento e saiu, ganhou sua família e um baque terrível, a doença e  a morte de seu pai. Vários de nós, seus amigos, estávamos lá, amparando-o em sua dor e dizendo-lhe que tivesse fé e se fortalecesse em Deus.
     Aos poucos, após esse baque, tudo foi sendo ajustado em sua vida: família, emprego, namorada, carro,... No entanto, ele recaiu recentemente.
     Estava neste final de semana viajando quando recebi, por mensagem de celular, a notícia. Ele já estava desaparecido há alguns dias. As notícias eram desencontradas. Ao final, após se dissipar um pouco da confusão, as coisas começaram a clarear: ele recebera uma certa quantia do seguro da morte de seu pai e fez besteira. A pergunta fica: por que, se aparentemente ele tinha tudo?
     Na verdade, não tinha. Algo faltou. Cheguei na segunda agora e de lá até hoje, eu e algumas pessoas temos nos mobilizado no intuito de encontrá-lo  e reconduzi-lo ao tratamento. No entanto, ele está escorregadio. Na própria segunda falei com a mãe dele e ela disse que o havia encontrado e ele falara que voltaria para casa. No íntimo sabia que ele não voltaria, como de fato ocorreu.
      A questão é não é de quem ele está fugindo por conta de sua vergonha, mas do que, nele, meu amigo foge. A droga é uma fuga acima de tudo. O que o angustiou? Em que ele alicerçou sua recuperação? Até onde, de fato, depois de mais de dez anos indo de uma comunidade terapêutica para outra, ele irá perder tudo outra vez? Este tipo de situação só me faz entender que para cair, basta estar de pé; que o que fizemos ontem, não nos basta para ficarmos limpos hoje. Tenho rezado muito por ele, para que Deus toque seu coração e ele tenha um instante de lucidez e busque ajuda.

Um comentário:

  1. Pois é amigo, tenho um grande amigo nessa situação.... É uma pessoa super prestativa, amorosa e atenciosa com todos, quando se engrena na irmandade ajuda a todos e em reuniões tb.... alias ele foi o principal amigo do meu ex marido na caminhada dele, gostamos muito dele, mas é exatamente o que vc falou, algo ficou no meio do caminho.... talvez ele ajude tanto por precisar tanto de ajuda... e ajudando ele esconde quem ele é... alguém que precisa muito de atenção carinho e amor.... Rezo por ele hj tb, para que volte....

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